Frases, Textos e Poesia




      Na Cruz Alta, o ponto mais alto da Serra de Sintra, encontra-se uma placa com um soneto de um escritor Sintrense, Francisco Costa de seu nome.Esta placa foi colocada em 1933, no mesmo ano em que este soneto foi escrito.
      Note-se a estranha profecia que existe no soneto, já que a Cruz Alta foi destruida há alguns anos atrás por um raio...

"Longe das ondas turvas da maldade,
Sobre este cume, entre rochedos nus,
És bem o extremo apoio que Jesus
Legou, por sua morte, à humanidade.

Vai bem à tua simples majestade
Este lugar que te foi dado, ó cruz,
Pois neste cimo é mais intensa a luz
E é mais intensa e bela a tempestade.

Feriu-te um dia o raio e, certamente,
Mais d’uma alma estranhou, irreverente,
Que o céu visasse o que une o céu à terra.

Mas eu sei bem que tu é que atraíste
A cólera do espaço, e assim cobriste
Com dois pequenos braços, toda a serra."

Francisco Costa

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Num dos recantos do Parque da Liberdade em Sintra, está gravado numa lápide este poema, escrito por Oliva Guerra:

''Oh Sintra, cujas fontes rezam
A oração perpétua das distâncias
Em vozes que já são
Ecos perdidos de outras ressonâncias,
Onde os montes, cismando pela altura
Soluçam num rumor, de quando em quando,
Elegias amargas da lonjura.
O teu perfil de altiva flor bravia
É sonho a erguer-se do torpor da terra,
Sortilégio de verde sinfonia
Que as almas prende no Divino abraço
Do encanto passional dos horizontes
Na silenciosa paz do teu regaço.''

Oliva Guerra

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      Este poema é de minha autoria, e vem inserido no livro ''Inexperiências'' da Corpos Editora / WorldArtFriends



                Cinthia

"Voava sem sair do chão
Era minh'alma livre, irreverente
À solta entre a vida, indiferente
Na ribalta do fogo franco da ilusão

O eco do meu grito então dançava
Pelo meio do meu povo, da minha gente
E célere minha esperança aumentava
Num rodopio de alegria lilás-crescente

O verde de Sintra eu transpirava
Pelos poros da alegro-fantasia
e tudo o que dizia, ouvia e sentia
Era retrato da magia que eu olhava

Sintra é verdade, cor, paixão
Eterna luta contra a razão
Sintra é o lugar que Deus escolheu
Dádiva para os sentidos que me deu

Sintra é o nome, e lá no alto da Serra
Vive o mais belo Paraíso da Terra."


 David Lobo Cordeiro in ''Inexperiências''


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      Camões lendo os Lusíadas a D.Sebastião na Penha verde em Cintra.

"Já a vista, pouco e pouco, se desterra
Daqueles pátrios montes, que ficavam;
Ficava o caro Tejo e a fresca Serra
De Sintra, e nela os olhos se alongavam.
Ficava-nos também na amada terra
O coração, que as mágoas lá deixavam.
E já despois que que toda se escondeu,
Não vimos mais, enfim, que mar e céu."

Canto Quinto
Luís de Camões



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Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra 

«Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra,
Ao luar e ao sonho, na estrada deserta,
Sozinho guio quase devagar, e um pouco
Me parece, ou me esforço um pouco para que me pareça.
Que sigo por outra estrada, por outro sonho, por outro mundo,
Que sigo sem haver Lisboa deixada ou Sintra a que ir ter.
Que sigo, e que mais haverá em seguir senão não parar mas seguir?
Vou passar a noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa,
Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa.
Sempre esta inquietação sem propósito, sem nexo, nem consequência,
Sempre, sempre, sempre,
Esta angústia excessiva do espírito por coisa nenhuma.
Na estrada de Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida…»


Fernando Pessoa (1888-1935)
Poesia de Álvaro de Campos

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Hino a Cynthia

'' Suave deusa da ilha
saturnina cynthia celta
romana vestal do ocaso
moura alma encantada
deusa que caças no bosque,
revela-me a tua face!

Eterna criança da lua,
amada e trágica ninfa,
revela-te! E ao teu laço em desaperto.
A mim,que me consigo mover (como um fantasma)
por tuas árvores-estelas
teu mapa de muros vivos
tua cascata de orquestras
tua fonte, ao meio-dia estranha,
teu perfume de montanha
em mares de um vento d´além,
pelos palácios, veloz –
e como nuvem branca
ao fundear no teu colo,
renasço no teu misticismo pagão
adorando a lua, bacante,
e sou o noivo desvairado ao luar
devindo os olhos de um poeta
em viagem para a luz.

A mim! Revela-me!
Mulher telúrica e virgem,
de teu corpo o selo
de tua fonte os amores
no santuário dos fetos
na cynthia dos eremitérios
dos conventos e das tabas,
em oriente, dentro de ti.

Revela-te!
a mim, que padeço desta insónia
de amar tua branca aparição,
hárpica cynthia, dá-me a visão, uma vez,
da tua face…
… e enterra meu corpo frio,
quando morrer, mais tarde,
dentro de ti, antes do céu,
para que eu leia no teu cabelo
frases com pena, folhas com música
eternidade escrita por um poeta.

E que depois de saciado na terra nua,
na harmonia do bosque mágico
em ritual sagrado e sensual
na clareira magmática eu renascesse
da pira quente do megalito
a um ritmo extático de cítaras
que a minha voz transformassem –
oh deusa mais pura, selena,
na de um poeta da lua. ''


Jorge Telles de Menezes, 
in “Selenographia in Cynthia”


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O Menino d'Olhos de Gigante

'' Há um gigante na serra!
É um gigante tamanho
qu'a gente sente o gigante
mas não lhe vê o tamanho!
È tão grande o gigante
qu'a gente vê-lhe um pedaço
mas aonde o gigante acaba
já a vista não alcança.
Conhece o gigante a serra
e anda sempre escondido,
ora s'esconde no vento
ora finge que é luar
ora se mistura na terra
e muitas vezes no ar
cuida a gente que é o mar
qu'stá de longe a falar,
cuida a gente que são nuvens
que andam pia serra a passar,
cuida a gente andar na serra
e no gigante vai andar! ''

Almada Negreiros (1893-1970)
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" Oh! Cintra! Oh saudosíssimo retiro,
Onde se esquecem mágoas, onde folga 
De se olvidar no seio à natureza 
Pensamentos que embala adormecido 
O sussurro das tolhas, c'o murmúrio 
Das despenhadas lymphas misturado! 
Quem, descansado á fresca sombra tua, 
Sonhou senão venturas? Quem, sentado 
No musgo de luas rocas escarpadas. 
Espairecendo os olhos satisfeitos 
Por céus, por mares, por montanhas, prados 
Por quanto há ai mais belo no universo, 
Não sentiu arrobar-se-lhe a existência, 
Poisar-lhe o coração suavemente 
Sobre esquecidas penas, amarguras. 
Ânsias, lavor da vida? - Oh grutas frias, 
Oh gemedoras fontes, oh suspiros 
De namoradas selvas, brandas veigas. 
Verdes outeiros, gigantescas serras! 
Não vos verei eu mais, delicias d'alma?"

Almeida Garrett (1799-1854)
in, Camões

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Diário de William Beckford

''Todos os caminhos vão dar a Sintra. O viajante já escolheu o seu. Dará a volta por Azenhas do Mar e Praia das Maçãs, espreitará primeiro as casas que descem a arriba em cascata, depois o areal batido pelas ondas do largo, mas confessa ter olhado tudo isto um pouco desatento, como se sentisse a presença da serra atrás de si e lhe ouvisse perguntar por cima do ombro: “Então, que demora é essa?” Pergunta igual há-de ter feito o outro paraíso quando o Criador andava entretido a juntar barro para lazer Adão. [..]

É ilimitada a perspectiva que se desfruta deste monte em forma de pirâmide: os olhos, baixando, dilatam-se pela imensa extensão das águas do vasto e infinito Atlântico. Uma longa série de nuvens soltas, duma alvura deslumbrante, suspensas a pouca altura do mar, produziam um efeito mágico, e nos tempos do paganismo tomá-las-iam, sem grande esforço de fantasia, pelos carros das divindades marinhas, que acabavam de surgir do seio do seu elemento. [...] A fresca brisa, impregnada do perfume de inúmeras
ervas e flores aromáticas, parecia infundir um novo alento nas minhas veias, e um quase irresistível desejo de me prostrar por terra e adorar neste vasto templo da Natureza a origem e a causada vida. […] Esta manhã, a grande suavidade da luz do sol, e a atmosfera serena e perfumada infundiam no espírito aquela voluptuosa indiferença, aquele desejo de ficar como num paraíso, nessa manhã de delicias, que nas ficções da fábula se supunha fazia esquecer aos que provavam o lótos a pátria, os amigos e todos os laços terrenos. Era isso que eu sentia, e tornara-se-me odiosa a ideia de me arrancar dali. ''

William Beckford (1760-1844)

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«Sintra o mais abençoado torrão de todo o globo habitável.»

Robert Southey (1774-1843)

''Letters Writen During a Journey and Short Residence in Portugal''

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«Mas a estrada entrava entre dois altos muros paralelos, donde soluçavam ramagens murmurosas. Era o Ramalhão.
O ar parecia mais fino, como refrescado da abundância das águas. Sentia-se uma vaga serenidade de parques e arvoredos. Alguma coisa de suave e de elegante circulava. Havia o silêncio dos repousos delicados e das existências ociosas. Era o Ramalhão.»

Eça de Queiroz (1845-1900)
''A Tragédia da Rua das Flores''
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''No vão do arco, como dentro de uma pesada moldura de pedra, brilhava, à luz rica da tarde, um quadro maravilhoso, de uma composição quase fantástica, como a ilustração de uma bela lenda de cavalaria e de amor Era no primeiro plano o terreiro, deserto e verdejando, todo salpicado de botões amarelos; ao fundo, o renque cerrado de antigas árvores, com hera nos troncos, fazendo ao longo da grade uma muralha de folhagem reluzente, e, emergindo abruptamente dessa copada linha de bosque assoalhado, subia no pleno resplendor do dia, destacando-se vigorosamente num reteve nítido sobre o fundo do céu azul-claro, o cume airoso da serra, toda cor de violeta-escura, coroada pelo Palácio da Pena, romântico e solitário no alto, com o seu parque sombrio aos pés, a torre esbelta perdida no ar, e as cúpulas brilhando ao sol como se tossem feitas de ouro...»

Eça de Queiroz (1845-1900)
in ''Os Maias ''

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Romancista e poeta dinamarquês, celebrizou-se pelos seus contos de fadas e narrativas de viagens. Visitou Portugal em 1866 e esteve hospedado em casa de José O'Neill, situada nas proximidades da Igreja de Santa Maria, na Calçada dos Clérigos, n.º 9.
Ali foi o refúgio sintrense do famoso escritor de 16 de Julho a 8 de Agosto daquele ano.

No seu diário ''Uma Visita a Portugal'', Hans Christian Andersen afirmou:

«A mais bela e decantada parte de Portugal é a inigualável Sintra» ou «Diz-se Que todo o estrangeiro poderá encontrar em Sintra um pedaço da sua pátria. Eu descobri aí a Dinamarca.»

Acerca da casa onde esteve durante a sua estada em Sintra, escreveu:

«Constituindo um simples lugarejo, acima de Sintra, entre rochas e verduras, está Santa Maria, em cujos arredores, sob altas árvores, José O'Neill linha a sua casa de campo, meu novo lar. Um largo terraço com jardim suspenso e envidraçado dava para a estrada…»

“A mais bela e decantada parte de Portugal é a inigualável Sintra”

Hans Christian Andersen (1805-1875)

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"Quem ousará passar n'outro campo que não fosse o de Seteais, cismar n'outro arvoredo que não tosse o da Penha Verde, comer outros pêcegos que não fossem os de Collares, outros dôces que não fossem as queijadas das trinta únicas e verdadeiras Sapas cujos protestos de veracidade se desdobram aos olhos do viajante espantado, nas paredes brancas da estrada do Ramalhão?"

Pinheiro Chagas (1842-1895)
in ''Fora da Terra''

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"Eis que em vários labirintos de montes e vales
surge o glorioso Eden de Sintra.
Ai de mim! Que pena ou que pincel
logrará jamais dizer a metade sequer
das belezas destas vistas (...)?"

Lord Byron

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"Era já pleno Estio. Os galãs mais ardidos de Lisboa estanciavam por Seteais, por Pisões, e por aquelas várzeas de Colares, a engarrafar lirismo para gastarem por salas nas noites de Inverno."

Camilo Castelo Branco (1 825-1890)
in ''A Queda de Um Anjo''

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Pobres Rosas de Sintra

"Toma essas rosas de Dezembro agora,
Que ao frio, à chuva, esta manhã colhi,
Elas trazem humildes, lá de fora,
Saudades da montanha até aqui.

Hão de morrer d'aqui a pouco, embora!
Em cada curva, onde o perfume ri,
Trazem mais o terno duma hora,
que um frágil coração bateu em ti.

Aceita-as pois, mas, como a vida é breve,
E, um dia, peno, leve e branca a neve,
Há-de cair sobre o teu peito em flor,

(Não vá Dezembro algum murchar-te o encanto)
Deixa tu que eu te colha agora, enquanto
Tens sol, tens mocidade e tens amor."

Nunes Claro (1878-1949)

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Ilhas de Bruma

"Serra de Sintra, em ti se iam pousando
Os olhos dos mareantes que abalavam,
E só por fim ao longe adivinhavam
A pátria entre neblinas ondeando.

Pedras sagradas, foi-vos desgastando
O olhar de tantos olhos que choravam;
Fostes o adeus de todos que ficavam,
E a saudade dos outros, navegando.

Em ti, serra marítima e da Lua
Paira a Saudade como a maresia,
Mágoa de amor tão alta e tão serena.

E quem depois voltava à pátria sua,
Ao mesmo tempo lá das ondas via
Terra de Portugal e sua pena..."

Afonso Lopes Vieira (1878-1946)

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"Esta é, respondeu Fanimor, a mãe de todo o esforço, que dará seus filhos para reparo do sangue de Cristo, chamada Monte da Lua, o qual nome antes de pouco tempo perderá, chamando-se Roca de Sintra, para enquanto o mundo durar; e não ficará parte nele, que o não saiba, assim como aquele que os sinais desta terra terá tão vivos, que nunca os perderá dos olhos, a qual roca é mostra do reino de Portugal, que em linhagem Sática quei dizer Todo Bem."

João de Barros (1496-1570)
''Crónica do Imperador Clarimundo''

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''Todos os caminhos vão dar a Sintra. O viajante já escolheu o seu. Dará a volta por Azenhas do Mar e Praia das Maçãs, espreitará primeiro as casas que descem a arriba em cascata, depois o areal batido pelas ondas do largo, mas confessa ter olhado tudo isto um pouco desatento, como se sentisse a presença da serra atrás de si e lhe ouvisse perguntar por cima do ombro: “Então, que demora é essa?” Pergunta igual há-de ter feito o outro paraíso quando o Criador andava entretido a juntar barro para lazer Adão. [..]
Da varanda do palácio o viajante olha a massa verde do parque. Que a terra é fértil, já o sabia: conhece bastante de searas e pinhais, de pomares e olivedos, mas que essa fertilidade possa manifestar-se com tanta força serena, como de um ventre inesgotável que se alimenta do que vai criando, isso só aqui estando se sabe […] O Sol cobre tudo isto. Um pequeno esforço das árvores levantaria a terra para ele. O viajante sente a vertigem dos grandes eventos cósmicos.''

José Saramago (1922 - 2010)
in ''Viagem a Portugal''

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Blog importante sobre sintra:

1 comentário:

  1. Boa tarde,
    Também há um Romance sobre ela: O Segredo da Serra da Lua.
    Talvez gostem de ler:
    http://www.sitiodolivro.pt/pt/livro/o-segredo-da-serra-da-lua/9789898678430/

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